Reuniões todas as segundas-feiras, às 17h e 30 min, no Diretório Acadêmico do Curso de História, localizado no Prédio 74 (CCSH) do Campus da UFSM. Participe!

quinta-feira, 31 de julho de 2008

SÓ MAIS UMA PIADA ELEITORAL

Por Ciro Oliveira

Partidarismos à parte, fico perplexo com o modo como, em cada cantinho do imenso Brasil, de um momento para outro, os políticos são ‘tomados’, repentinamente, por um ‘desejo de promover o bem público’.

Pode ser neurose minha ou loucura (chame como quiser, Freud explica), mas é inevitável como esses momentos de ‘súbita consciência social’ coincidem exatamente com os períodos pré-eleitorais ou eleitorais.

Tomando como exemplo Santa Maria, por ser a cidade onde vivo e, por conseguinte, onde posso fazer minhas próprias constatações (repito que estou deixando de lado as inclinações políticas), vou citar alguns casos que exemplificam minhas colocações.

Desde janeiro de 2005, início do segundo mandato do prefeito Valdeci Oliveira, observou-se uma clara deterioração dos espaços públicos: ruas cada vez mais esburacadas e com sinalização precária, praças mal-cuidadas e sujas, e lâmpadas queimadas.

Mas, com a chegada de 2008 (ano eleitoral, por ‘coincidência’), a situação tem melhorado de modo proporcional à proximidade das eleições. As ruas estão sendo concertadas; iniciou-se a construção da perimetral, a qual ligará a Zona Oeste à Zona Norte; acelerou-se a construção do tão comentado túnel da Avenida Rio Branco; a Rua do Acampamento foi reparada, no trecho entre a Rua José Bonifácio e a Avenida Medianeira; e as ruas de chão batido das vilas estão sendo patroladas e empedradas.

Houve também a inauguração da primeira ciclovia da cidade, na Zona Sul, e a reinauguração do Museu de Arte de Santa Maria (vale ressaltar que o prédio que abriga o museu continua em péssimas condições, as quais foram ‘mascaradas’ por uma grossa mão de tinta mal aplicada, diga-se de passagem).

Além disso, as praças estão, como se diz em linguagem popular, ficando “como um brinco”. A Praça Saldanha Marinho, por exemplo, voltou a ter um chafariz e, durante a noite, irradia tanta luz que é necessário usar óculos escuros para atravessá-la (principalmente se você for fotofóbico, como eu). Em toda a cidade, as lâmpadas estão sendo trocadas e, aposto, até a eleição, não haverá um poste sem iluminação em Santa Maria.

Também, para tranqüilizar e agradar as classes populares, o prefeito garantiu que o preço da passagem do transporte coletivo não será reajustado até o final do ano (depois da eleição, a gente vê se isso realmente procede ou se é apenas propaganda eleitoreira) e ainda trouxe, às custas do dinheiro público, o mega show do cantor sertanejo Daniel, na comemoração dos 150 anos e Santa Maria.

Opinião minha, mas penso que os R$ 100 mil gastos no sesquicentenário teriam melhor destino se aplicados em prol dos milhares de miseráveis que morrem pela falta absoluta de meios para a subsistência. No entanto, tenho em mente que, para muitas pessoas, por falta de instrução, às vezes o circo tem uma importância maior do que o pão, além de render mais votos.

Claro que muitas das obras citadas, as quais deve-se somar a criação de loteamentos que abrigarão as pessoas que moram em áreas de risco (como o São Cipriano, no Parque Pinheiro Machado) e o projeto de recuperação do Arroio Cadena, estão sendo desenvolvidas com dinheiro do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC) do Governo Federal.

No entanto, não se pode deixar de observar que a maior parte do montante de recursos do PAC está sendo destinada às cidades governadas pelo PT (partido do Presidente da República), como Santa Maria, aqui no Rio Grande do Sul.

Reitero mais uma vez a separação entre minhas críticas e a questão partidária. Cito o PT por ser o partido que, atualmente, detém o poder tanto aqui na cidade, quanto na presidência do Brasil. Mas estendo a crítica a todos os governos anteriores, tanto em nível municipal, quanto estadual e federal, e também aos atuais partidos ‘donos’ do poder, que não o PT, já citado, pois afinal essa é uma prática que ninguém assume aplicar, mas que todos sabemos que é a realidade crua e, se não completamente nua, muito mal disfarçada.

Gostaria de deixar claro ainda que não sou contra as obras públicas. Muito antes pelo contrário: creio que elas deveriam ser realizadas e, inclusive, multiplicadas, mas que isso ocorresse o tempo todo, e não apenas em períodos próximos às eleições, pois as necessidades das pessoas são permanentes, e não podem esperar pelos caprichos dos políticos.

E assim, quem está no poder usa descaradamente a máquina pública para permanecer no poder. A democracia como a conhecemos, é realmente representativa: quem está no poder representa os interesses economicopoliticoideológicos de um grupo particular (o seu), tentando manter-se no poder. Cada político ‘representa’, em um papel determinado pelo script ou roteiro de um partido, diretor da encenação. Enquanto isso, o povo fica na platéia, passivo, apenas observando a representação no palco político e, vez ou outra, aplaudindo a encenação, sonhando, resignado, com as ‘maravilhas’ apresentadas no espetáculo e, depois, se decepcionando com a vida cotidiana, indo dormir com a barriga vazia, e a cabeça cheia de vãs esperanças de mudança.

Seguindo a metáfora das representações, é preciso que nos tornemos diretores de nossas vidas e de nossa história; é preciso que deixemos de aplaudir a comédia política que nos é apresentada. Se isso não for possível, é preciso pelo menos que as eleições passem a ser realizadas todos os anos.